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Sobre Daniela Avelar

por Patrícia Galelli

Os tons das falhas não têm o mesmo nome das tentativas. É preciso perceber devagar inventário, listas, coleções e apropriações que Daniela Avelar faz e que apresenta nas paredes escritas em branco, sobre a cor branca, em cartazes impressos em branco, em livros, em gesso. Nada é dado no trabalho da artista, tudo é aparentemente simples. Ao primeiro olhar, vazio. Mas é só questão de tempo até que nos capte e que nos faça forçar a vista. Tão logo aprofundamos na demora do ver, ela nos leva a encontrar mais do que procurávamos. 


Escrita e ficção em possíveis encontros entre artistas, o monocromático que, oposto da totalidade, desarma as certezas e abre o infraordinário campo das possibilidades. As palavras na cor branca sobre fundo branco tornam-se, elas próprias, páginas a serem escritas. Página sobre palavra, em baixo relevo, em gesso, em impressão ou em tinta – inscrita no trivial dos encontros, na festa dos fracassos, na profusão de sentidos ou no infinito das listas.


Os tons das tentativas não têm o mesmo nome das falhas. É preciso entrar no jogo das apropriações que Daniela Avelar engendra para nos trazer impressa a ironia das dificuldades que nem passam tão despercebidas assim: como a tentativa diária de abordar o chefe para pedir um aumento, a partir de George Perec; ou mesmo as regras de segurança do trabalho, elencadas especialmente para o contexto industrial, que permanecem na Carteira de Trabalho desde 1932, que a artista satiriza ao colocá-las no cenário neoliberal do sucesso sob o repetitivo “só o trabalho produz riqueza”. 


Num tempo de convulsão, em que a incoerência se acumula ou em que os relacionamentos se esvoaçam numa névoa branca, a apropriação como procedimento, que está em tantos trabalhos de Daniela Avelar, acaba por criar uma espécie de permanência artificial para que possamos tentar perceber devagar. Como no trabalho “Enviou-lhe uma mensagem”, as respostas “sim”, “não”, “talvez” tiradas de conversas por mensagem de aplicativo, que escancaram a imprecisão dos diálogos; ou mesmo a clássica “provavelmente com certeza”, dita por um soldado da PM ao ser questionado sobre deter adolescentes por “associação criminosa” numa manifestação de 2016. 


Os tons das falhas para cada tentativa. O nome das tentativas para cada falha. Em processos que multiplicam a possibilidade de experimentação, de coleção em coleção, de lista em lista, é o próprio mundo que é apropriado por Daniela Avelar. Permaneço tentando perceber devagar a prática do trabalho que ela desenvolve, sutil e certeira, para ver todos os tons e todos os nomes ainda por vir. 

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